quarta-feira, 26 de setembro de 2018

CREUSA MEIRA CONVIDA RUTINALDO - CORDEL



 Peleja em Cordel realizada em set/2008, entre uma amiga Poetisa cordelista Creusa Meira e eu, há alguns anos.

 
Creusa Meira

Rutinaldo, se achegue
Vem comigo pelejar
Já que somos conterrâneos
Vamos nos apresentar
Somos do interior
Moramos em Salvador
Temos muito o que falar.


Rutinaldo C. 

Então vamos começar
Pondo nossa prosa em dia
E quem ver vai desejar
Ter nascido na Bahia.
Baiano quando conversa
Mesmo sem querer já versa
Pois a terra é de alegria.


Creusa Meira 

Esta terra tem magia
Poesia é tradição
Já tem Creusa, Rutinaldo
Cordelistas de plantão
Nossas praias são tão belas!
O luar brilhando nelas
Mas amamos o sertão.


Rutinaldo C.
.
Eu fiz uma excursão
Para ver cada terreiro
Foi trabalho cansativo
Rodei este mundo inteiro
E são mais de mil e tanto
Só de orixás e santo
Preenchi todo um ficheiro.


Creusa Meira 

Acendi meu candeeiro
Fui andar pela cidade
Era sexta-feira treze
Já não tinha claridade
Escondida atrás da igreja
Resolvi fazer peleja
Para espantar a maldade.


Rutinaldo C.
.
Por amor a amizade
Comadre eu te imploro
Não repita tal façanha
Pois se tu morres eu choro
Correste grande perigo
Saiba que eu sou teu amigo
Morrer junto eu não demoro!


Creusa Meira 

O perigo eu ignoro
Tou na chuva pra molhar
Não corro de tempestade
Pode o sol me esquentar
Mas, uma coisa eu digo
Ao compadre meu amigo
A morte é duro enfrentar.


Rutinaldo C. 
.
É bom nosso prosear
Falando até de morte
Perguntam pela alegria
Se já perdemos o norte,
Avise a qualquer irmão
Que a morte é transição
E Jesus é o passaporte.


Creusa Meira  

Prefiro apostar na sorte
Traçada pelo destino
Deixe a morte pra depois
Você é ainda menino
Falemos de cantoria
Viola na noite fria
Lua no céu nordestino


Rutinaldo C. 
.
Viola em vez de sino
Em vez de frio, o calor
Faremos pois, cantoria
Em vez de lembrar da dor
De alegria aqui se pula
Cantando reisado e chula
E ao mesmo tempo louvor.



Creusa Meira 

Vamos falar do valor
Que há nessa tradição
A cantoria de reis
No presépio, no salão
Eu tenho muita lembrança
Desse tempo de criança
Que vivi lá no sertão



Rutinaldo C. 
.
O reisado é obrigação
E a Santo Reis sou devoto
Desde os nove anos canto
Comércio ou lugar remoto
Tão bom quanto "cantar reis"
É a cachaça do freguês,
Detalhe simples que eu noto.



Creusa Meira  

Cantando reis, tenho foto
vídeos e muitas lembranças
Até hoje ainda canto
De cigana, com crianças
Em Jornada Cultural
Distante da capital
Em cantorias e danças.


Rutinaldo C.
.
Durante minhas andanças
Em nove ternos cantei
Nos batuques da lapinha
Algo sempre admirei
Ver os caboclos baixando
Senhoras rodopiando
No meio do salão chei'.


Creusa Meira  

Da folia, você é rei
Este assunto me agrada
Agora vamos andar
Viajando pela estrada
Falemos onde é que fica
A natureza tão rica
O coração da Chapada.


Rutinaldo C.

A cidade mais falada
É Wagner ou Livramento
Ainda temos Lençóis
Jamais no esquecimento.
A Chapada Diamantina
Quem a ela se destina
Renova seu pensamento.


Creusa Meira 

Dentro de um apartamento
Eu me sinto prisioneira
Queria poder escutar
Barulho da cachoeira
Que cobre a serra com um véu
Qual nuvem branca no céu
Descendo na ribanceira.


Rutinaldo C.
.
Numa vida corriqueira
Eu nem prestava atenção
Mas hoje vejo o Pai Inácio
Ponho a mão no coração
Formação mais grandiosa
Que beleza majestosa
Que tenho no meu Sertão!



Creusa Meira 

Do meu pedaço de chão
Não poderia esquecer
A pequena Dom Basílio
Que me viu nascer, crescer...
Tinha um lindo regato
Lá eu brincava no mato
De balanço e de esconder.


Rutinaldo C. 
.
Pode incrível parecer
Mas 'inda brinco daquilo
Brinquei, brinco, vou brincar
Mesmo idoso em um asilo.
Vamos seguir nossa prosa
Creusa, oh! querida rosa!
Escolha pois, novo estilo.


Creusa Meira 

Para não perder o brilho
Da setilha eu desvencilho
Façamos novo estribilho
Seguindo outra direção
Próximo ao Vale do Capão
Fica uma linda cidade
Que me levará o 'Cumpade'
Nos oito pés a quadrão.


Rutinaldo C. 
.
Só depende da vontade
Questão de prioridade
Vai encontrar facilidade
Pode vir, tem erro não.
Quando ver a sub-estação
Pra quem vai fica à direita
Só seguir a estrada estreita
Nos oito pés a quadrão.


Creusa Meira 

Sua dica está perfeita
A comadre então aceita
Pega a estrada satisfeita
Levantando um poeirão
Manda preparar o capão
Que a visita é exigente
Gosta de um pirão quente
Nos oito pés a quadrão.


Rutinaldo C. 
.
O caldo já está fervente
Bem picante, bem ardente
E já estou impaciente
Para mexer o pirão.
Diz-me a educação
Que devo aguentar a fome
Sozinho que não se come
Nos oito pés a quadrão.


Creusa Meira 

Sinto doer o abdome
Ansiedade me consome
Creusa Meira é o meu nome
Preciso de proteção
Vou pedir a São João
Faça chegar esse dia
De banquete e alegria
Nos oito pés a quadrão


Rutinaldo C.  
.
Se eu pudesse faria
Chegar logo essa folia
Que tanto te agracia
Este tempo do balão.
Mas deixe a consumição
Vamos viver cada instante
Aproveitando o bastante
Nos oito pés do quadrão.


Creusa Meira 

Vamos seguir adiante
Passando pelo mirante
Uma vista deslumbrante
Dessa linda região
Causa grande excitação
Ver o Pico do Barbado
A Serra do Esbarrancado
Nos oito pés a quadrão.


Rutinaldo C. 
.
Verás o alto Cerrado
Campos limpos feito Prado
E onde estiver acampado
Procure adentrar o capão.
Solte sua respiração
Sinta o cheiro que ele exala,
Mais puro ar não se inala
Nos oito pés a quadrão.


Creusa Meira 

Amigo, você pediu
Vou atender seu pedido
Nossa peleja seguiu
De modo bem divertido
O tema não vai mudar
A Livramento chegar
Podemos continuar
No oitavão rebatido.


Rutinaldo C. 

Estamos nós a brincar
E a coisa ganhou sentido
Se eu quiser descansar
Ouvirá o meu gemido.
Mas se tu estais comigo
Livramento é meu abrigo
Dentro da Chapada eu sigo
No oitavão rebatido.


Creusa Meira  

Podemos ir sem perigo
O pouso é garantido
Estando com meu amigo
A excursão tem sentido
Se tiver comida, traga
Pra cachoeira do Fraga
Rio de Contas nos afaga
No oitavão rebatido.


Rutinaldo C. 

A Comadre já divaga
Mas agora consolido
Comida é idéia vaga
O lugar é bem provido!
Tem cortado de banana,
Doce de cana-caiana,
Boa variedade emana
No oitavão rebatido.


Creusa Meira  

Foi uma idéia insana
De alguém subnutrido
Mas no meio da semana
O fluxo é diminuído
Quando eu por lá morava
No Fraga, eu passeava
Muita fome eu passava
No oitavão rebatido.


Rutinaldo C.  

Saiu-se senhora brava
Com o tempo decorrido
E hoje nada se agrava
São coisas do tempo ido
É nova a alma do canto
Que fragilizou o pranto
E encobriu com novo manto
No oitavão rebatido.


Creusa Meira  

E o seu canto tem encanto
Deixa o povo comovido
Cantando reis, no entanto
Era um menino sabido
Depois do reisado, samba
Parecendo um "nego bamba"
Encantando pra caramba
No oitavão rebatido.


Rutinaldo C. 
.
Da Chapada quem descamba
Anda errante, distraído
Por não caber na muamba
Lembrança do lá vivido
Se já mal cabem as lanternas
Para adentrar cavernas
Roga-se por fortes pernas
No oitavão rebatido.


Creusa Meira 

No caminho, uma parada
Vamos ao Pico das Almas
Deliciando nas calmas
Que a paisagem da Chapada
Ao longe descortinada
Faz-nos perder o sentido
Seu campo todo florido
de orquídeas e bromélias
Flores do Mato e nélias
Nos dez de queixo caído.


Rutinaldo C.  

O fim da tarde assemelha
Um presépio ornamentado
Em tons de um amarelado
Mas logo se avermelha.
Nos lembra o fogo na grelha
O céu multi-colorido
Que basta pra ter valido
A jornada de aventura
Em rumo à arte pura
Nos dez de queixo caído.


Creusa Meira 

Contemplando essa figura
De beleza e encantamento
Vemos surgir Livramento
Que a esse quadro mistura
Sua grandeza fulgura
No canto que eu elucido
Ao som da água no ouvido
O verde cobrindo a terra
Entre as curvas da serra
Nos dez de queixo caído.


Rutinaldo C.  

O olhar que semicerra
Vislumbra o panorama,
Sentido para quem ama
A cultura que se encerra.
Neste mundo não se erra
Se em Wagner foi nascido
O tempo foi preterido
Trazendo mar de instrução
Eis Wagner: um coração
Nos dez de queixo caído.


Creusa Meira 

A nossa grande excursão
Está chegando ao fim
Viagem tão bela assim
Carregada de emoção
Deixa em nós, sensação
De ter o dever cumprido
E o prazer de ter vivido
Pra curtir esse momento
De ver Wagner e Livramento
Nos dez de queixo caído.


Rutinaldo C. 

O nosso agradecimento
Vacila por entre o choro
Fazemos parte do coro
Que soa voz de lamento.
Mas há um contentamento
Centelha na qual trepido:
Tomará o seu partido,
Guiada pela tua sina,
Pra Chapada Diamantina
Nos dez de queixo caído.


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