Um contador de charadas, talvez um dos poucos e últimos que
ainda usava conceitos do tipo “duas e uma”. Conhecido como Nininha, mas de nome
Claudionor Miranda, era um senhor já de idade bem avançada, cabelo alvo sempre
sob um chapéu de feltro, uma bengala, que ele mesmo em suas astúcias havia
confeccionado. Contador de charada e causos era Sr. Nininha. Tido como sujeito
muito inteligente desde moço, consertador de máquinas de costuras complexas. Tinha
ofício de fazer bules, candeeiros, e utensílios diversos de lata ou zinco com soldagem à base de cravo. Era também artista: tocava cavaquinho, fazia
troços bonitos e exóticos como uma corrente de madeira, cujos elos não se
sabiam como eram encaixados. Na verdade não eram encaixados: era esculpido um elo
dentro do outro. Era, ainda, jogador de dominó assíduo e sem igual. Quem não se
lembra da demora antes de jogar cada peça? Muitos cálculos e raciocínios. Para
ganhar tem que pensar! Quem quisesse que esperasse!
É lógico que isso não é tudo a respeito do velho Nininha.
Mas o que pretendo aqui é somente contar uma de suas charada, que se traduz em
um problema de Matemática. Eis a dita:
Um sujeito tinha pouco dinheiro, entrou em uma igreja e
propôs ao santo: se o mesmo duplicasse o dinheiro que havia ali em seu bolso ele lhe daria 20,00 mil réis. O milagre foi realizado, o cara realmente cumpriu com a
promessa e deixou vinte mil réis e saiu com o restante. Chegou a uma segunda
igreja e repetiu a proposta, o santo atendeu, deixou outro 20,00 mil réis e
saiu com o restante. Chegou-se, por fim, em uma terceira igreja, e tudo se
repetiu igual havia acontecido nas outras duas. Porém, ao ser duplicado o
dinheiro do bolso e ter dado 20,00 mil réis ao santo, saiu sem nenhum dinheiro.
Pelo visto não foram vantajosas para ele suas negociações. A pergunta da
charada é: quanto o sujeito tinha no bolso ao entrar na primeira igreja?
Sr. Nininha viveu em Lençóis/Wagner até há poucos anos, quando, então, partiu desta para melhor.